Um textão para falar de quatro etapas de uma vida com propósito: TALENTO, SONHO, TRABALHO E RESULTADO.
De todas as coisas tristes que tenho visto nesta guerra - porque sim: "há guerra". No momento em que alguém quer o extermínio do outro, isso é uma guerra! a simplificação está em pensar que matar o corpo é a única maneira de promover o extermínio de alguém. Não é. Pois se extermina também, quando não deixamos o outro ser e existir, mesmo sem matá-lo. Se você não quer que uma pessoas seja o que nasceu para ser ou o que é em essência, você está promovendo o seu extermínio! - então ontem vi uma agressão (mais uma promovida e estimulada por este governo e seus apoiadores) anexada a um post onde um bando de jovens que, supostamente seriam alunos de humanas dentro de uma universidade pública (repito:SUPOSTAMENTE), faziam uma estranha e incompreensível performance em sala de aula, dançando seminus, de forma a expressar irracionalidade e selvageria. O contexto? Não sei. A intenção? Não sei. Se era relevante ou útil: não tenho ideia. 
O que tenho certeza era do tom agressivo do post e dos comentários de ódio que o seguiam. Ódio contra as Universidades e, mais especificamente, os cursos de humanas. Como se fosse necessário odiar tudo o que o "capitão" mandou odiar; ignorando o absurdo que é agredir algo que busca, com maior ou menor êxito, a evolução humana. A compreensão de si mesmo. 
Eu não preciso defender a sociologia, a filosofia ou qualquer destas ciências humanas que sobrevirão a este governo e sobreviverão às própria universidades. "Um olhar que tenta entender a humanidade vai existir enquanto existir humanidade!" Mas eu preciso defender a minha escolha. Eu preciso defender a importância do curso que eu faço e eu preciso, sobretudo, defender um incontável número de pessoas maravilhosas, inspiradas, inteligentes e sérias que conheço a cada semestre aqui dentro do universo acadêmico.
Mas não vou defender agredindo ou reagindo com a mesma baixeza que vejo constantemente em postagens como aquela e tantas outras que tentam retratar os estudantes e profissionais de ciências humanas como alienados; mas eu vou fazer isso falando dessas quatro coisas que citei acima: a primeira é O TALENTO.
Antes que soubesse ler, me dei pela existência da morte e tive medo. A morte era uma coisa estranha e o oposto da vida, que era tudo o que podia entender. Pois se tudo existia para mim era porque eu estava vivo, e todos que eu amava e que davam sentido à minha vida, também estavam. Mas passei a entender que esta não era uma condição permanente.
A partir daí, eu tentava pensar na vida e entender o que ela era, da maneira que pode conceber uma criança de cinco ou seis anos. Ainda me lembro que um dos sentimentos mais fortes daquela época era medo da morte; a minha morte e a de minha mãe e irmãos... Aquela tentativa de entender e dar sentido à vida e à morte e assim parar de temê-la, era o nascimento da minha "filosofia".
Então eu fui filósofo antes mesmo de escrever. Muitos de nós fomos, mesmo que tenhamos escolhido nos tornar agricultores ou médicos, a filosofia está em nós.
Quando aprendi a escrever, descobri que podia organizar todos estes meus pensamentos em palavras e registrá-los. Como não tinha conhecimento apenas muitas perguntas, contextualizava as minhas incertezas aos elementos que tinha ao meu redor e, divagando sobre a beleza e a dúvida, a vida e o medo, me tornei poeta, antes mesmo de saber o que eram poemas. 
Tudo aquilo que se faz por inclinação, e que se faz bem ou melhor do que a média das outras pessoas, chamamos de talento. Talento com o qual eu briguei e o qual não reconheci como importante até a vida adulta.
Eu tinha talento para ser poeta e filósofo, mas fiz muitas outras coisas "úteis" e, por fim, me tornei metalúrgico. Por ser uma possibilidade e não minha escolha ( já é mais do que a maioria dos brasileiros pode). Um metalúrgico que fazia elevadores, e elevadores todos sabem como e para que usar. Então nunca fui criticado por apertar parafusos, pois era mais útil que filosofia ou poesia, que quase ninguém sabe para que usar.
Mas eu não me afastei da palavra escrita, porque ela foi minha amiga e foi de tal maneira importante, que mesmo apertar parafusos diariamente pareceu suportável e até alegre algumas vezes, pois minha mente corria por muitos pensamentos enquanto meu corpo era útil para fabricar. Mas o talento é coisa poderosa e eu publiquei meu primeiro livro lá, enquanto apertava parafusos.
Daí me veio a segunda coisa de que quero falar: O SONHO.
Pois vendo que as palavras tinham uma influência forte na vida, inclusive de quem aperta parafusos, eu sonhei que poderia um dia melhorar a vida de quem eu nem conhecia com aquilo que eu tinha: o talento.
O meu sonho era viver, não do que eu tinha talento para fazer, mas para fazer aquilo que eu tinha talento e que, muitas vezes, eu sei, melhorou o dia de uma pessoa. Porque assim como algumas pessoas precisam de elevadores para subir andares, outras precisam de palavras para atravessar os dias.
Daí veio a terceira coisa de que vou falar: O TRABALHO. E o trabalho é sim construir elevadores e cidades mas é, sobretudo, construir a si próprio de forma sólida, com base e conteúdo, compreensão da própria importância, lugar e função no mundo. 
Cogitei filosofia para entender solidamente estas bases; cogitei letras para dominar com mais eficiência a minha principal ferramente que era a palavra, mas optei por jornalismo, por saber, por experiência própria, que o conhecimento pode aproximar as pessoas humildes como eu, de informações que estimulam o diálogo e o senso crítico.
Ainda com a forte intenção de ser útil e exercer a função de munir a sociedade daquilo que ela precisa para se observar no grande quadro e ser capaz de se compreender, se autocriticar e autogerir e direcionar seu futuro para o bem da maioria.
Estar preparado para fazer isso com competência, exige sacrifício, renúncia e "trabalho". Mas não é um trabalho inútil, e isto nos leva ao último elemento que mencionei: O EFEITO.
O talento que leva ao sonho, que exige trabalho, mas que produz um efeito!
O efeito de pensar, de se entender, de querer mudar e de, no desejo de mudar, acabar mudando primeiro a sua realidade e, depois, o mundo todo.
Tem gente que não quer a mudança. Gente que quer que filho de agricultor seja agricultor. Que filha de doméstica seja doméstica. Que rico permaneça rico e pobre pobre. Mas eu nem estou aqui para defender a mudança. A mudança virá. A mudança só é evitável com e extinção... e lutaremos contra a extinção. Dentro das fábricas, nos campos, nas cidades e nas universidades. Desde que o nossa capacidade de sentir indignação não seja sufocada pela insensibilidade que se quer promover ao destruir as ciências que não falam sobre as coisas que temos, que inventamos, que descobrimos ou que construímos. Mas sobre as coisas que somos em essência. A sua existência e o sentido dela. Sua filosofia, amigo!

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