Velto Correa

     Vamos tomar cuidado ao tratar do tema inclusão. O racismo é um assunto que precisa ser esgotado. É uma conversa que precisa sair da moda. E tenho esperança de que um dia a diferença de condições entre as raças no país seja tão pequena, que se torne irrelevante. Mas este dia não é hoje. Hoje debatemos. Hoje falamos de inclusão e equalização de oportunidades. Não vou me vitimizar (como afirmam que faço),nunca! Eu sou um ser humano ótimo, eu reconheço a minha potência.Eu tenho c icatrizes, mas também já mostrei as garras. Inclusive mostro as garras agora! pra você que diz que eu não mereço este bônus. Porque eu mereço sim! Se eu entrei na faculdade só aos trinta e quatro anos, não foi por preguiça ou incapacidade, mas porque sou pobre. Nasci pobre porque meu pai nasceu pobre e pouco pôde fazer pra evoluir, já que ele tinha uma marca na pele. Uma marca que dizia: "Sou neto de escravos". Repito:Eu não sou vítima!,meu pai não foi vítima. Mas meu bisavô, com certeza, foi. E no

     Daí você vê que não tem dinheiro pro ônibus. Corre na casa da irmã e pede uma grana.     "Mas se não tem dinheiro pro ônibus, vai comer o quê?" pergunta ela. E na hora prepara uma quentinha.      No "pinga", nada de luxo! mas os fones no ouvido fazem esquecer o desconforto da lotação máxima. A paisagem em movimento, a música... Eu olho para alguns rostos e ninguém parece tão feliz quanto eu. Com minha quentinha na mochila e o meu zero reais no bolso.      Eu não imaginava isto! É a primeira vez na minha vida adulta que mal sobra pra ceva. Mesmo assim tomo porres homéricos, porque os amigos não me deixam mal. Não falta churrasco, porque sempre um colega avisa: "Vem, porque a carne é por minha conta!" E sempre tem festas. Muitas! Canto, me divirto.Ganho dinheiro ou não ganho, mas vivo a noite, como sempre! Os amigos me apresentam com orgulho, como se eu fosse rico. Justo eles, que são o meu tesouro da vida toda, e minha maior fonte de créditos, atual