Com um Punhado de Amoras Maduras.

    Esqueça as crenças e as religiões.
    O que se pode dizer com alguma certeza - ainda que ter certeza implique em correr mais riscos do que ter dúvida -  é que a vida é uma só! O tempo não volta! A magia não existe!
    E que nada há sob o sol que negue estas verdades. 
    E eu estou, como sempre estive , resvalando na rampa do tempo,envolvido na trama da vida; trilhando o caminho  certo da morte, como todo ser que vive!
    Dançando a ciranda assim como todos dançam; pois nem há mesmo escolha! a existência tem suas regras e a gente gira conforme ela canta.
    Eu sei que fui feto e fui criança. Eu conheci um dia o sorriso da mãe e  eu senti uma primeira vez o toque do vento e o cheiro da chuva;
    Eu tive a música, eu tive o amor e eu tive o medo. Eu vivi o intenso , o sagrado e  o marcante;
    E por maior que fosse a dor ou arrebatamento, nada nunca rompeu a perfeita sequência dos anos, a lei comum da física, a normalidade  das coisas.
    Porém hoje, eu passei por um pé de amoras, molhadas ainda pela chuva... E estou certo de que não era mais eu ali, na ponta dos pés com o braço esticado na direção dos galhos. Não era eu com água na boca e o brilho nos olhos!, era um menino de calção e chinelos, ávido pelo sabor agridoce da própria infância.
     E não me parece nada além de mágico, enganar assim o tempo e compreender assim a vida,
                                                com um simples punhado de amoras maduras!



     

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