No limiar da guerra

    Dizer simplesmente que sou contra a guerra ou o confronto não define exatamente a minha postura. Na verdade a minha aversão é mais profunda. Tenho horror! tenho verdadeira fobia dos conflitos dessa natureza.
   Mas tem uma observação importante a ser feita. As Guerras moldaram as sociedades, determinaram fronteiras e garantiram direitos, bem como os anularam, algumas vezes. Mas enfim, a guerra é a linguagem final. É o argumento que se usa quando todas as negociações já falharam. Talvez, levando em consideração as nossas limitações diplomáticas, a guerra seja inevitável. Eu disse TALVEZ!
Contudo, eu sei bem que lugar estaria reservado para mim na história no caso de uma guerra iminente: eu seria aquele que foge. Que se nega. Que se esconde. Eu não iria à guerra. E se a guerra chegasse até mim, eu não pegaria em armas a menos que tomado por tal instinto insano que me privasse da racionalidade. Racionalmente eu diria não. Se sou um covarde? Bem possível que sim. Pois embora o que temo da guerra não seja a morte ou a dor, eu temo. Temo mudar demais. Temo viver traumatizado e marcado de tal forma que já não me reconheça. Temo que a construção do que sou e que foi feita com paciência, esforço, sacrifícios, desmorone.
    Mas então eu abandonaria minha pátria, minha família, meus irmão e amigos, negando o enfrentamento em nome de uma paz ameaçada ou de um receio de alterar quem sou? Não. Eu jamais abandonaria.
    Eu não critico os soldados. Eu não nego o valor deles. Eu não possuo o ímpeto que os impulsiona, mas não os condeno. Eu não os julgo tolos e aventureiros; mas eu não sou um deles. Eu seria aquele que costura suas feridas e lava seu sangue. Aquele que junta seus corpos. Eu gastaria a vida arando os campos e cuidando das casas, para aqueles que regressassem.Eu desenterraria as minas. E eu lamentaria todos os dias a fatalidade, a impossibilidade de evitar a guerra. E eu tentaria ter consolo e dar consolo a quem sofre. Mas eu não tenho essa coisa temerária e heroica. Eu sou um outro tipo de bicho.
    É uma postura  que eu trago para todos os campos da minha vida, mesmo nestes tempos de relativa "paz". Eu sinto o alvorecer de uma guerra. Eu realmente sinto isso cada vez mais presente nos debates, nas atitudes e na ira de alguns discursos. Acho que muitas pessoas estão vendo melhores chances de mudança nas armas do que nas canetas. Mais nos gritos de guerra do que nos discursos de paz.E vejo grandes vilões aproveitando-se do momento, crescendo e ganhando voz. Nessa hora eu me sinto uma espécie entrando em extinção. Pacifistas e humanistas nestes tempos são mal interpretados (quase odiados) e tendem a sumir nessa onda imensa que vejo se formando no horizonte. Mas enquanto eu ainda tenho voz; enquanto essa Tsunami não me engole, eu vou investir nas ferramentas que tenho. Nas palavras de respeito, de união, de perdão e fraternidade. Eu vou cantar os hinos de redenção até que os sons de canhões cubram minha voz. Eu vou tremular a bandeira da paz até que a fumaça negra da batalha me cubra.
   Pois se a guerra é realmente o argumento final...e ela se aproxima. Eu irei gritar amor, irei gritar compaixão e caridade. Nós ainda não fracassamos. Ainda há tempo!

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