O carnaval e a saúde do povo.

   "A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte!"

Se você não assim tão novinho vai lembrar deste trecho da letra da música "COMIDA" do Titãs, de 1987.

Dentro deste contexto vamos compreender o que significa o corte de verbas para a cultura, tal como o promovido pelo prefeito de Porto Alegre no carnaval da cidade.

Você não gosta de carnaval. Você acha absurdo. Você não se identifica...Perfeito! Isso não muda o fato de que é uma expressão cultural, a mais expoente da cultura negra no nosso país. Num país em que a população afrodescendente praticamente se iguala à soma de todas as outras etnias, isso precisa ser considerado em sua grandeza, seja ou não do seu gosto.

Existe um percentual determinado por lei, do que cada município deve investir em cultura. É algo que fica entre 1 e 1,5% da receita líquida. E isso não é para o carnaval e sim para TODAS as atividades culturais.

A saúde é mais importante que cultura? Considerando que para qualquer atividade humana, estar vivo e com saúde para gozar a vida, é necessário, então sim, a saúde é o mais importante. A segurança é mais importante. A urgência em atender estes serviços é indiscutível. Contudo, duas coisas devem ser muito bem observadas; a primeira delas, é que se a saúde falha com um percentual vinte vezes maior do que o da cultura, de que faria diferença o magro orçamento da cultura( comparado as cifras com que a administração pública trabalha)? A resposta é simples: Não faria diferença. A questão é a má administração, como sempre foi. A segunda, e que sem entretenimento e cultura, a gente adoece. A gente cria mais problemas para a sociedade.

Tirar da Cultura não é solucionar nada.

Mas é emergencial. Temos que sacrificar algo!...Esse discurso tá na moda, e o emergencial continua sempre mexendo no que é do povo ou para o povo. Enfim ,esta discussão não vem ao caso agora. Mas o irritante é que a prefeitura admita a incompetência de um segmento onerando o outro. Demonstra assim incapacidade de gerir qualquer deles. E o pessoal aplaude e acha formidável. Mas veja bem o argumento: "Não destinaremos tal verba para o carnaval, mas buscaremos investimentos para ele." Se esta possibilidade ou intenção de buscar investimentos fosse real, o prefeito os buscaria diretamente para a saúde. Ainda que suas razões sejam, ele já começa mentindo.

Pois bem amigos, a lógica do capital se fortalece ainda mais com pensamentos simplistas como este. Prova que quem está no governo não entende(talvez nem queira entender) as necessidades do "grosso" da população que administra, e como que precisamos muito de saúde e muito de segurança, nos força a aceitar uma existência maquinal, sem cultura, diversão e entretenimento. Se a nova administração não consegue criar uma solução para uma secretaria sem causar problemas para a outra, então já começa a sua gestão assumindo sua incompetência, e de quebra admita que vivamos como gado. O que não parece ruim, afinal o gado sempre serviu muito bem à fome dos interesses capitalistas.

Mas cuidado, amigo Prefeito,com o tiro no pé! O carnaval, o futebol, a festa...sempre foram o ópio do povo. Quem sabe se nos tirarem o pouco dos poucos prazeres que temos, a gente acorda, se revolta e vai de bloco sambar aí nos seus carpetes.