No meu sonho eu movia potes de vidro com o poder da minha mente no chão lustroso. Eu era criança, eu acho. Ou talvez só bem mais jovem. Mas o contexto do sonho era este: eu deitado de costas no sofá velho que ficava na sala-cozinha da pequena casa de madeira onde eu gastei grande parte da minha vida, movendo potes de vidro com a mente; perto das brancas e gordas pernas desenhadas com varizes. Ela estava de pé em frente ao fogão, cozinhava algo e nem me olhava. Ela não era a protagonista do meu sonho; mal me notava e eu mal notava ela. Eu apenas brincava com meus poderes enquanto ela cuidava do seu fogão. E isso era verdade. Ela foi como uma mãe pra mim, por muito anos e era comum eu estar na sua casa ocupando espaço, sem motivos. Brincando com os filhos dela com quem eu cresci. Eu podia estar lá, tão bem vindo quanto em casa. No sonho, ela me olhou uma vez como se conferisse se minha travessura não ia longe demais. Ela estava maquiada, o que não era muito comum. Sua cabeleira estava toda grisalha, como era comum. Não me lembro que roupa ela vestia. Meu sonho nunca tem muitos detalhes ou lógica. Eu não me emocionei quando a vi no sonho, viva. Mas no sonho, eu quebrei sua xícara de café que, por algum motivo, foi parar no chão junto aos potes de vidro que eu telepaticamente movia. A xícara de café saiu do meu controle, moveu rápido demais em vários direções e se espatifou no pé da mesa. Ela, quando me olhou estava séria, como uma mãe irritada. O seu normal era estar sorrindo. Sorria muito, falava muita besteira. Ria muito das próprias besteiras. Mas naquele momento me olhou séria e eu despertei. Foi meu último sonho dessa noite. E eu acordei assim, meio triste. Com saudade. Logo hoje a manhã tá nublada. Manhãs nubladas são minha cryptonita. Acordado, eu pensei que ela estava irritada não pela xícara de café quebrada. Eu quebrava tanta coisa e ela não ligava. Só ria. Ele me amava como amava seus filhos. Acho que ela estava irritada porque eu a quase esqueci completamente. Ela morreu e nem lembro há quanto tempo. Dez anos, doze, quinze. Eu não tenho uma foto, não tenho um objeto. Só estes sentimentos e imagens engavetadas no meu subconsciente e que eu meu cérebro traz num contexto meio sem nexo. Teria sido legal se o sonho tivesse sido realmente sobre lembranças de infância ou super poderes. Mas acordado eu percebi, eu senti que o sonho era sobre saudade. E logo hoje, a manhã tá nublada. Dá meio um nó escrever seu nome, mas Dona Gessi, que saudade!

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