MENTE


Eu me forcei este momento seguro enquanto assistia um filme depois do trabalho. Eu tenho estado confuso, me sentindo vazio e meio sem norte, com a sensação de que preciso descansar a mente. A ironia é que a mente, ela nunca descansa ou dorme.
 Li uma vez que ao contrário do que muitos pensam, a gente sonha todas as noites, durante todas as horas do sono. Só não somos capazes de lembrar. Temos toda uma sorte de experiências e sensações inacessíveis, armazenadas no subconsciente. Assim que a mente administra a sua incapacidade de parar: separando o que é útil saber e lembrar do que não é. Pensando agora, acho que toda essa profusão de pensamentos e sentimentos que me vêm em avalanches está intimamente ligada à falta de um sono de qualidade. Honestamente, não me lembro em alguma noite da minha vida adulta que eu tenha dormido profundamente por dez horas consecutivas. Eu pareço não estar dando tempo necessário para minha mente colocar as coisas nas gavetas certas. A mente é uma operária que limpa  a casa enquanto o patrão dorme, mas ela precisa que ele durma e não lhe dê outras tarefas.
Mas como eu dizia no início, eu escolhi assistir "Os Guadiões da Galáxia, vol. 2" pela segunda vez. Eu não queria assistir um filme e ter que realmente pensar à respeito. Só queria um lugar seguro pra direcionar meus pensamentos. Quando o filme acabou, sem surpresa,  no exato ponto em que eu já sabia que acabaria, eu senti um vácuo. Como se a minha existência toda fosse um trem que de repente fica sem trilhos, sem chão, sem paisagem, sem nada! Senti minha mente tão diluída e espalhada por coisa alguma, que era como sentir minha sanidade me abandonar por um segundo. Não mais que um segundo. Então me dei conta disso: me dei conta que a mente precisa de trilhos, de estrada. Me dei conta que a gente tem sempre que dar à mente  um caminho, pois ela é um veículo sem freio com um motor que não pára. Se não tem trilhos, se não tem estradas, ela se descarrilha, se choca, capota... ela se destroça. Assim, via de regra, enquanto acordado eu tento colocar a mente num certo caminho seguro... com mapa, com destino,  itinerário. Enquanto durmo deixo que ela voe por onde bem entender. Algumas vezes temos essa sensação de a nossa mente ou, algo da nossa mente é uma coisa separada da gente. Uma coisa autônoma e quase estranha. Acho que muitos conceitos religiosos se apoiam nisso.
Desde sempre somos assombrados por essa coisa estrangeira, monstruosa, indomável que nos habita... sem entender que ovo do demônio em nossas cabeças nós mesmo é que chocamos.
  Não é à toa que a mente é tanto nossa ponte quanto o nosso precipício.


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