Maus Perdedores que Somos.

Olha, doeu um tanto e ainda não curou!
Ainda não sabemos bem o que fazer com o ressentimento. A gente não tinha preparado um discurso para a derrota mesmo quando a derrota já era anunciada.
Nós, do lado de cá, somos assim: sonhadores iludidos; naquele grau patético que aborrece os realistas.
Somos essa gente esquisita que se aconselha em poesia, abraça árvore e aplaude pôr-do-sol. Não somos práticos e preferimos não acreditar nos números. Tínhamos um outros elementos a considerar: o tal humanismo, a tal caridade. Afinal, vivemos na bolha, não é? Somos os ursinhos da nuvem rosa e, obviamente, o mundo é mais deles do que nosso. E, sim, existem nós e eles. Lição amarga. "Nós e eles, até na mesa de jantar."
Admito, sobretudo, os maus perdedores que somos. Não apertamos ainda a mão do adversário, agradecendo pelo bom combate... até porque não houve bom combate; teve muito golpe baixo e jogo sujo, dos dois lados. Foi final de gauchão com grenal, sem charme ou técnica.
 Xingamos as pessoas com muita intenção; atestamos nossas antipatias, reforçamos nossas incompatibilidades. Aumentamos o abismo.
Agora, vencidos e não nos reconhecendo entre os vencedores que são maioria, nos sentimos estrangeiros no nosso país e até as cores da nossa própria bandeira nos irrita.
A essa altura eu achei que já teria gastado minha raiva e já estaria pronto para praticar o cinismo cotidiano para conviver em paz com quem eu não gosto, a indiferença usual para ignorar ao invés de odiar e a calma necessária para admitir: "venceu o desejo da maioria". Engraçado, pois no fim, esta é justamente a democracia que defendemos. Concretizada.
Assim sendo, era para estar tudo muito bem... Não está!
Eu ainda quero gritar um monte de desaforo e mandar meia dúzia pro inferno! Talvez não sejamos, afinal, tão paz e amor assim.
De qualquer maneira, chegou a hora de parar de brigar com os outros e para isso é preciso voltar a brigar comigo mesmo. Diminuir meu ego. Diminuir minha voz...
A tristeza que eu senti talvez seja a mesma que eu causei, caso eu tenha decepcionado no mesmo grau que me decepcionei.
Mas eis que noto aí um consolo curioso, pois eu começo a sentir uma satisfação em ver gente triste. Pois essa gente que tá chorosa, é no geral, gente que eu gosto! Com alguns dos mesmos cacoetes que eu (e que nos tornam um fracasso garantido pra viver nesse mundo), e percebo que é uma honra estar derrotado em tão excelente companhia.
É uma tribo triste, derrotada e sem aldeia. Mas é a minha tribo.

                                         

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